Vivo da escrita

Vivo da escrita. Mas não da escrita de livros. Vivo da escrita de software.

Quando falamos em software, é como se lidássemos com duas realidades distintas, dois “mundos” — o mundo exterior (que é visto por todos) e o mundo interior (que é visto apenas pelos desenvolvedores daquele software). Talvez você não saiba, mas esse mundo interior — que você não vê — é extremamente rico e complexo. É o tal do código-fonte. 

De certa forma, desenvolver um software é como redigir uma história: criamos os personagens (e como somos criativos com os nomes!), os diálogos, as cenas e tudo o mais que se desenrola na “trama”. Temos a liberdade de moldar nosso próprio mundo.

Utilizamos linguagens de programação, cada qual com seu vocabulário, sua sintaxe, seu estilo e suas “expressões idiomáticas”. Como escritores, podemos, em nossos “textos”, ser prolixos ou lacônicos, modernos ou retrógrados, claros ou confusos.

Muitas das histórias que contamos evoluem ao longo de vários anos (e, por vezes, décadas!)… A chegada de novos requisitos pode introduzir plot twists inesperados, perturbando todo o enredo, gerando a necessidade de reescrevermos várias cenas, jogar fora algumas coisas, remover personagens não mais necessários, criar outros personagens e interações não previstas. Além disso, alguns “insetos” (bugs) insistem em atrapalhar a nossa narrativa, e alguns deles são muito difíceis de serem eliminados. Enfim, não costuma haver muito espaço para a monotonia.

O mais louco é que todo esse complexo enredo invisível que escrevemos é capaz de se auto executar e produzir um resultado visível no mundo externo (me lembra um pouco o texto bíblico de Hebreus 11:3). Diferentemente de uma história fictícia tradicional, o resultado da “encenação” deve (ou, pelo menos, deveria) ser preciso — na sua dimensão exterior, pessoas utilizarão aquele sistema de software.

Portanto, estamos diante de um ofício que alia o rigor e a exatidão da matemática e da engenharia, com a subjetividade e as possibilidades ilimitadas da escrita e da arte. 

Amo minha profissão de “escritor de software”.

— Alexandre Gazola

Aprender uma nova língua é…

Aprender uma nova língua é aprender diferentes modos de pensar sobre a mesma coisa, e diferentes coisas nas quais jamais havíamos pensado.

É descobrir, esquecer e redescobrir significados, conceitos e nuances dos quais nunca nos demos conta.

É perceber e experimentar o mundo sob um prisma distinto. É expandir seus horizontes. É transformar ruídos ininteligíveis em melodias e canções. É extrair sentido de rabiscos outrora indecifráveis.

É entrar numa aventura infindável de descobertas. É cultivar o senso de curiosidade. É habituar-se ao desconforto, a andar por caminhos incertos.

É voltar a ser como criança: embaraçar-se, falar errado, não saber o que dizer, ou como dizer, ou quando dizer… É celebrar pequenos progressos, valorizar o simples. É ser humilde para aprender, desaprender, reaprender.

É escalar montanhas sinuosas. É embarcar numa viagem sem fim, desfrutando de cada etapa. É ser perseverante na semeadura, confiando nos frutos vindouros.

É conviver com conquista e frustração. É arriscar-se a ser mal compreendido, mas vibrar em entender e fazer-se entendido.

É alegrar-se nas semelhanças e diferenças entre outros. É fazer novos amigos, romper barreiras, obter acesso e conexão com a alma de pessoas de geografias diversas.

É reconhecer diferentes histórias e culturas, descobrir novos mundos. É, no diferente do outro, entender melhor o que é seu.

É, sobretudo, tornar-se outra pessoa… sem deixar de ser você mesmo.

Vale a pena aprender uma nova língua.

— Alexandre Gazola